Cronos, já sabemos, é cruel.
No momento em que Portugal festeja e recorda jubilosamente o centenário de nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das maiores vozes poéticas da sua história, eis que falece uma das maiores escritoras da língua portuguesa: Agustina Bessa-Luís.
Seria obviamente fútil e desnecessário tentar resumir aqui a importância da figura e da sua obra literária no panorama das Letras Portuguesas.
Recordarei apenas que ela escreveu um fabuloso texto para um programa da C.N.B. a propósito de A Bela Adormecida. Foi encomendado em 1998 e publicado no ano seguinte como número primeiro da Colecção Escrever a Dança da Companhia Nacional de Bailado. Agustina, aí, elucidava-nos que “A Bela Adormecida hoje seria salva pelo Super-Homem e viajava para muito longe da terra numa nave espacial”.
Recordo, também, que a sua obra já fez nascer óperas: a 14 de outubro de 2014 estreou na Fundação Calouste Gulbenkian sob a direcção de João Paulo Santos, tendo sido posteriormente levada à cena no Teatro Aberto, a ópera As Três Mulheres com Máscara de Ferro de Eurico Carrapatoso com libreto a partir de textos de Agustina Bessa-Luís. A obra centra-se em três protagonistas femininas criadas pela escritora (Fanny Owen, Ema, Sibila).
Não sei se Agustina era grande amante de ópera. Bastaria, porém, o seu amor pela obra de Camilo Castelo Branco — e o constante contacto com a mesma — para ter tido um encontro exaltante com o universo da lírica.