Ainda consta nos anais da história da ópera a aventura protagonizada pelo meio-soprano Marietta Alboni em Londres no ano de 1847 no decorrer de uma récita da ópera Ernani de Verdi. Este meio-soprano (aluna de Rossini e uma das grandes vozes do século XIX), tendo adoecido o barítono e não se tendo arranjado substituto em tempo útil, saltou para o palco e cantou o papel de Carlo. Não sei se pôs barbas postiças, para acentuar a virilidade com que não nasceu, mas um meio-soprano que se apresenta num papel de barítono é algo inusitado – de tal maneira o é, que ainda hoje estamos a falar disso.
Pois São Carlos fez melhor! No Carnaval de 1853 propôs ao seu público que assistisse a cinco récitas (que decorreram a 2, 3, 4, 5, 6 e 7 de Fevereiro) da ópera Il barbiere di Siviglia de Rossini com grande parte do elenco … em “travesti”.
Assim, ao lado de Rachel Agostini e de Anaïde Castellan, que cantavam Berta e Rosina, respectivamente e no sexo correcto, portanto, surgiam Giovanna Rossi-Caccia (cantora que inaugurou o Liceo de Barcelona em 1847) no papel de tenor (Almaviva) e Ersilia Agostini no papel de Don Bartolo (barítono). Curiosamente, o espectáculo era complementado por um bailado de Domenico Segarelli intitulado “As mulheres ciosas”.
Foi uma semana linda! Veja-se os programas detalhados em MIL E UMA E MAIS NOITES.
São Carlos sempre esteve muito à frente!