Maio de 1984. Ópera Anna Bolena de Donizetti. Ensaio de cena, pois está tudo “à civil” em palco.
Mara Zampieri, a titular da produção, sentada no seu trono feito de cartão e rodeada por alguns membros do coro masculino, conversa com os mesmos, enquanto o encenador Paolo Trevisi marca as posições do coro feminino, na direita baixa. Simpática, a diva ouve pacientemente um dos coralistas mais jovens – um daqueles que nos confrontam (até pela impostação sonora tonitruante com que dizem Bom dia) com uma vontade indómita e descontrolada de ser cantor. Depois de uns bons minutos a ouvir os tremendos feitos canoros do coralista até à data, Zampieri pergunta:
– Ma, allora, Lei vuol proprio fare il cantante?
– Sí, sì. Lo aspetto!
“Boca” pronta de um outro coralista, que também seguia a conversa:
– Anche la Butterfly ha aspetatto!
Só me recordo da Zampieri rir até às lágrimas.