De público anónimo ao palco de La traviata

De público anónimo ao palco de La traviata

Na série de récitas da ópera La traviata de Verdi que se cantou em São Carlos em junho de 1982 os intérpretes de Alfredo e Giorgio Germont eram, respetivamente, o tenor italiano Carlo Bergonzi e o barítono espanhol Vicente Sardinero. O primeiro, então uma “lenda viva” do canto verdiano, nascido a 13 de julho de 1924 (faleceria a 25 de julho de 2014), contava então com pesados 58 anos de idade. O seu “pai”, nascido a 12 de janeiro de 1937 (faleceria a 9 de fevereiro de 2002), contava 45 anos. Acrescendo a este paradoxo temporal que a Física não aguenta, mas a Ópera muito bem, Sardinero era um espanhol seco, elegante, direito, cheio de salero e raça. Bergonzi trazia consigo a celestial e belíssima voz involucrada por um físico que pouco tinha a ver com ela.

Quando, depois de ter decorrido todo o I Acto, entra em cena Giorgio Germont (Sardinero) para demover Violetta de casar com o filho Alfredo (Bergonzi), ouve-se, ainda antes de ele cantar “Madamigella Valéry?”, uma cruel voz num camarote a meu lado:

– Oh! Ela vai fugir com o pai!

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