No mais recente livro de José Saramago — Último Caderno de Lanzarote, lançado a público há menos de um mês — podemos ler páginas do diário do escritor do ano em que ganhou o Prémio Nobel de Literatura, 1998. Neste, como noutros volumes da sua obra, o Galardoado fala de música e de músicos.
Personalidade que é várias vezes focada neste Caderno de Lanzarote VI é a violoncelista Irene Lima, uma das mais conhecidas instrumentistas portuguesas e membro da O.S.P. Neste ano em que a nossa orquestra celebra os seus 25 anos de existência, estas recordações registadas por Saramago não poderão deixar de ser motivo de regozijo. Irene Lima esteve em Turim como intérprete de uma obra que foi escrita para ela pelo compositor Alexandre Delgado e a sua atuação inseriu-se num alargado Congresso, de que Saramago foi Presidente, que reuniu inúmeras personalidades na Universidade de Turim.
Seguem as entradas do diário que referem Irene Lima.
3 de maio: Jantar no Otto Colonne, já com o embaixador, João Diogo Nunes Barata, e o conselheiro cultural, Jaime Raposo. Presente, além do Giancarlo, Pablo e Carmélia: Filipe de Sousa (…), Teresa Rita Lopes, Carlos Reis, Irene Lima, Ana Ester Neves e Mário Vieira de Carvalho.
5 de maio: No Palazzo Civico, encontro dos congressistas com o V Comissão Conciliar Permanente da Comuna de Turim (…). À tarde, sessão sobre música. Azio Corghi fez um percurso pelo trabalho realizado até agora sobre textos meus, Irene Lima falou sobre o ensino da música em Portugal, Filipe de Sousa sobre a música nas óperas de António José da Silva, e Mário Vieira de Carvalho sobre contra-hegemonia e transgressão na música de Lopes-Graça.
7 de maio: Ao fim da tarde, concerto na Aula Magna da Universidade com Irene Lima, Ana Ester Neves e Filipe de Sousa. A impressão que me causou a “Antagonia” de Alexandre Delgado.
Recorde-se que Irene Lima esteve presente na CML quando o corpo do escritor ali estava a receber uma última homenagem dos portugueses, tendo na ocasião interpretado a Sarabande da Suite nº 2 para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach e El cant dels ocells, uma canção tradicional catalã de Natal. A violoncelista vestiu na ocasião o vestido vermelho que Pilar Saramago usou em Estocolmo na cerimónia de entrega do Nobel, que tem bordada uma frase do escritor: Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti, Quero estar onde estiver a minha sombra, se lá é que estiverem os teus olhos.