Conheci o Luís Miguel Nava em Outubro de 1977 e, como se sabe, tudo começou para ele, literariamente falando, com o livro Películas, que o fez vencer o Prémio Revelação de Poesia 1978.
Foi pois precisamente essa a época em que mais lidei com ele, tendo tido assim a felicidade de mergulhar – com apenas 16 anos – naquela alegria desbragada que ele distribuía pelos amigos e pelo mundo.
Recordo, por exemplo, as quatro míticas récitas da ópera Il trovatore de Verdi (Zampieri, Cossotto, Cappuccilli) que ouviu ao meu lado no São Carlos e no Coliseu em 1978. Nos mesmos teatros vi-o assistir a vários espectáculos de arromba: Simão Boccanegra (Cappuccilli, Zampieri), As Bodas de Fígaro (Zylis-Gara) são dois desses. Ouvi também alguns concertos na sua companhia. Sublinho um com o contralto Vera Soukupova, no Estoril, com um ciclo Mahler que o encantou, e outro com Ruggero Ricci, também na Linha. Aqui espantaram-no os Estudos de Paganini dados como extra.
Recordo ainda transmissões televisivas de ópera vistas em sua casa: Um Baile de Máscaras do Scala (Zampieri, Pavarotti, Cappuccilli – Abbado); Il trovatore de Salzburgo (Cossotto, Cappuccilli, Domingo, Kabaivanska – Karajan). Estas sessões eram sempre vistas na companhia do Gastão Cruz e do Carlos Fernando. Em casa do Gastão ver-se-ia depois, da Staatsoper de Viena, uma Carmen (Domingo, Obraztsova – Karajan). Relembro ainda como se fosse hoje um Fidélio de Beethoven visto em directo da Staatsoper de Viena (Janowitz – Bernstein). Local: casa da mãe do Gastão, em Faro, depois de umas favas que tomara o Eça.
O trovatore de 1978, de que o Luís Miguel viu todas a récitas, foi, para mim, um festejo literário e teatral.
Na noite de estreia, recordo muitíssimo bem, houve um jantar a três em casa dele – ele, eu e a Lucinda Loureiro, a actriz, amiga dele desde a juventude comum em Viseu. Comeu-se uns bifes à pressa e lá voámos nós para São Carlos.
Na última récita, a do Coliseu dos Recreios, que Frederico Lourenço também bem recorda, ainda consigo visualizar, na Geral do lado direito (olhando para o palco), o quarteto que formávamos eu, o Luís Miguel, o Gastão Cruz e o Carlos Fernando.
Acreditem no Frederico Lourenço: o público descontrolou-se mesmo.