Ópera Chinesa — uma experiência

Ópera Chinesa — uma experiência

A próxima visita a São Carlos de um espetáculo de ópera chinesa fez-me recordar uma inesquecível viagem à volta do mundo que efetuei em dois meses e meio no ano de 2006. No decorrer da mesma, dei por mim em Pequim, onde permaneci de 17 a 24 de junho.

No dia 20 desse mês vi pela primeira vez um espetáculo de ópera chinesa. Devo confessar que cerca de três anos antes eu já apanhara na Praça do Leal Senado em Macau um concerto aberto ao público com excertos de ópera chinesa cantados por um soprano — tinha de ser soprano, dado o timbre, bem como as notas estratosféricas que de vez em quando lançava. Não me preparara sequer, fui por acaso ao encontro do espetáculo, não entendia a língua e os códigos musicais ou poéticos do mesmo e dei por mim em estado de perplexidade — a certa altura não sabia se a cantora estaria a entoar um trecho jovial, tipo “Una voce poco fa”, ou um pungentíssimo apelo ao Universo, tipo “D’amor sull’ali rosee”. Como dizia o poeta do século XVII, saí dali a andar “perdido em mim como em deserto”.

Até que em 2006 em Pequim decidi ir assistir a um espetáculo de ópera chinesa, com cenários e tudo, no Teatro Liyuan. Este, curiosamente, funcionava no andar térreo do hotel em que eu estava hospedado. Aí, ofereceram-me um pequeno conjunto, que se mostra, de máscaras de personagens de ópera chinesa. A sala é um pouco como as salas de espetáculos de um Casino em Portugal, como se pode também ver na foto.

Depois de uma Abertura Instrumental, assisti então a dois excertos de duas peças.

A primeira intitulava-se A Morte de Yu Li, um drama lírico (creio eu). Em cena, um Imperador e a tal Yu Li, a sua amada. O Imperador, cujos exércitos estão prestes a ser derrotados pelo inimigo, está em angústias pela sorte da rapariga. Ao ser efetivamente derrotado (informação que lhe chega por um lacónico comprimário, semelhante ao Ruiz de Il trovatore), o Imperador percebe que tem de fugir, mas sabe também que a sua amada atrasará essa fuga. Não me perguntem porquê. Yu Li diz então ao Imperador que se suicidará, para não o prejudicar. Ele que não, ela que sim, e no fim mata-se mesmo.

Muitos aplausos, e eis que sobe ao palco uma peça completamente diferente: Os dezoito Arhats combatem contra Wukong. Esta é quase só instrumental e está recheada com acrobacias absolutamente espampanantes. O herói tem de combater os tais Arhats e em palco então é um festival de lutas estilizadas, brilhantíssimas armas, saltos extraordinários (verdadeiras afrontas às leis da gravidade), pulos, máscaras; tudo ao som de uma percussão extraordinariamente frenética. Houve, inclusivamente, momentos cómicos protagonizados por um anão. Quando este surgiu em palco, senti-me, não sei porquê, num espetáculo de commedia dell’arte!

Como gosto de fazer, guardei o bilhete.

Bilhete Liyuan Theatre

E lá acabou! Durou pouco mais de uma hora e foi uma experiência de vida.

Liyuan Theatre

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