PLÁCIDO DOMINGO E O SIEGMUND DE DIE WALKÜRE

PLÁCIDO DOMINGO E O SIEGMUND DE DIE WALKÜRE

Siegmund foi o terceiro papel wagneriano afrontado por Placido Domingo, depois de Lohengrin e de Parsifal. Estreou-o na Staatsoper de Viena a 19 de Dezembro de 1992 ao lado da Sieglinde de Waltraud Meier, da Brünnhilde de Hildegard Behrens e do Wotan de Robert Hale.

Fiquemos com palavras do cantor sobre o papel. A assunção lírica de um papel muitas vezes traduzido de modo decisivamente heróico desconcertou muita gente.

Sei que algumas pessoas ficaram surpreendidas pelo lirismo que eu trouxe ao meu canto wagneriano. Mas, pelo menos eu vejo-o assim, a coisa mais sortuda e importante é precisamente o facto de eu não ser um Heldentenor! Muitos dos tenores que cantam regularmente o Siegmund tendem a ser punidos vocalmente depois de uma firme dieta com Siegfried, Tannhäuser, até Tristão.

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Como personagem, Siegmund é um dos maiores heróis da literatura operática, por tudo aquilo que sabemos dos seus sofrimentos passados e por tudo aquilo que lhe acontece durante os dois primeiros actos da ópera. Ele é um verdadeiro personagem heróico que luta para sobreviver – primeiro com Hunding e seus lacaios e depois com o próprio destino. Vence a primeira batalha, mas não pode vencer a segunda contra um destino (personificado em Wotan e Fricka) que, devido às inflexíveis políticas que governam o mundo dos deuses, decide de outro modo.

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É tão triste que Wagner tenha criado este par de personagens tão apaixonante (o mais apaixonante e magnífico de todo o Ring!) apenas para o fazer desaparecer da Tetralogia no final do Ato II de Die Walküre! Siegmund é criado apenas para servir como pai de Siegfried, para que o Ring possa continuar. Eu sinto que isto é desesperadamente triste porque ele é um fabuloso personagem. Como eu gostaria que Wagner o tivesse feito continuar na história!

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A Cena da Morte de Siegmund é uma das mais inacreditáveis mortes que eu interpretei. Quando estou a morrer – e morro nos braços de Wotan – apercebo-me que foi ele, o meu pai, que me matou. A minha tristeza é então de tal ordem que não consigo deixar de chorar – felizmente, não tenho de cantar mais, porque não sei como o conseguiria fazer. A trágica história de Siegmund e destas duas nobres almas que passam por tanto sofrimento apenas para morrerem e desaparecerem neste ponto da obra esmaga-me. Não consigo pensar em nenhum outro sofrimento em toda a ópera que se possa comparar ao deles … excepto, talvez, o de Loris Ipanov em Fedora.

Depois da estreia em 1992, Domingo apresentou-se com o papel de Siegmund nos mais gloriosos palcos líricos do mundo. Vi-o e ouvi-o na Staatsoper de Viena nos inícios do século, no Teatro Real de Madrid em 2002 e em Tóquio em 2006. Corroboro tudo o que ele diz!

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