REGINA RESNIK — CONFINADA AO HOTEL!

REGINA RESNIK — CONFINADA AO HOTEL!

Regina Resnik, nasce em Nova-Iorque a 30 de Agosto de 1922.

Inicia a sua carreira como soprano e a estreia profissional dá-se a 22 de outubro de 1942 com um recital na Brooklyn Academy of Music. Após dois meses já canta a Lady Macbeth dirigida por Fritz Busch e em Fevereiro e Março de 1943 é Leonore (Fidelio) e Micaela (Carmen) no Palacio de Bellas Artes em Mexico City dirigida por Erich Kleiber. Em Abril de 1944 ganha as “Metropolitan Opera Auditions of the Air” cantando a ária “Ernani, involami”, o que lhe abre as portas do grande teatro nova-iorquino. Tem aí uma entrada dramática, tendo de substituir à última hora a consagrada Zinka Milanov na Leonora de Il trovatore, mas obtém um triunfo. Nos dez anos seguintes canta no palco nova-iorquino pelo menos 20 heroínas (Donna Elvira e Donna Anna, Leonore, Sieglinde, Gutrune, Chrysothemis, Rosalinda, Aida, Alice Ford, Tosca, Butterfly, Musetta, etc.). Ao mesmo tempo, desenvolve uma frutuosa colaboração com a Ópera de San Francisco. A carreira de Resnik atinge o zénite, com regulares colaborações com nomes como Otto Klemperer, Bruno Walter, Georg Szell, Fritz Reiner, Erich Leinsdorf.

Em 1953, quando apresentava a sua Sieglinde em Bayreuth, o maestro Clemens Krauss (que esteve em São Carlos), sugeriu-lhe que tentasse e trabalhasse a tessitura de mezzo-soprano. A cantora aceitou o conselho e em 1955, depois de um ano de estudo com o barítono Giuseppe Danise, apresentou-se como Amneris (Aida) e Laura (La Gioconda). No Met debutou como mezzo-soprano em 1956, como Marina (Boris Godunov) dirigida por Mitropoulos. Depois foi Carmen, Amneris, Ulrica, Velha Prioresa de Dialogues des Carmélites, entre outros papéis.

Foi uma actividade esplendorosa: cantava fluentemente em seis línguas; o seu imenso repertório abarcava três séculos de ópera (do classicismo até ao século XX); foi estrela em todas as grandes salas dos EUA e América do Sul (Buenos Aires, Santiago) e desenvolveu ainda uma gloriosa carreira europeia (Scala, Fenice, Salzburg, Nápoles, Vienna, Lisboa, Madrid, Munich, Berlin, Bruxelas, Marselha, Estugarda, Hamburgo, Edimburgo, Bayreuth); gravou todos os seus grandes papeis: Carmen, Klytemnestra, Mistress Quickly, Orlovsky, Velha Condessa (Pique Dame), Sieglinde.

De 1971 a 1981 dedicou-se à encenação, sempre em colaboração com o marido, Arbit Blatas, que assinava os cenários e figurinos. Exerceu esta actividade essencialmente na Europa: Carmen (Hamburg), Falstaff (Veneza, Varsóvia, Madrid, Lisboa), The Medium e The Bear (Lisboa), Elektra (Veneza, Strasbourg, Lisboa) e Salome (Lisboa, Graz). Também assinou A dama de Espadas em Vancouver e Sydney. Precisemos, nacionalisticamente. Regina Resnik e Arbit Blatas produziram em São Carlos: Elektra (1972 e 1977); The Bear de William Walton e The Medium de Giancarlo Menotti (1974); Salomé (1975); Falstaff (1976). Nestas produções Resnik cantou Klytmnestra, Herodias e Mrs. Quickly.

Esteve por cá a 4 e 5 de maio de 1974 com The Bear e The Medium (nesta interpretou Madame Flora) e sentiu de perto o clima efervescente que se vivia. No dia da Revolução e nos seguintes Resnik parece que teve de fazer ensaios no hotel em que estava hospedada, perto do São Carlos (fechado), enquanto os tanques passavam. O ilustrador Zé Manel deixou um desenho em que se recorda o acontecimento: Resnik no hotel dirigindo os ensaios.

Regina Resnik no Hotel, por Zé Manel

Um ano depois, a cantora ainda sentia a efervescência de Portugal. Veja-se como recebeu ela os aplausos depois da Salomé de 1975, com o V de Vitória bem visível!

Eu assisti a Elektra, Salomé e Falstaff. Quem assistiu também, ficou a saber a que ponto a ópera pode ser um espectáculo total. As demenciais Klytemnestra e Herodias de Regina Resnik, bem como a sua impagável Mrs. Quickly, provaram-no.

Em 1987 Resnik transitou para o mundo do musical norte-americano. Após uma gloriosa carreira de várias décadas, morreu a 8 de Agosto de 2013.

Regina Resnik

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