A estreia da Sinfonia nº 10 em Menor, op. 93 de Dmitri Shostakovich deu-se a 17 de dezembro de 1953, meses após a morte de Estaline, ocorrida em março desse mesmo ano. Executantes foram a Orquestra Filarmónica de Leningrado sob a direcção de Yevgeny Mravinsky.
No livro Testimony, que contém as Memórias do compositor, Shostakovich revela pormenores interessantes acerca da obra.
Nunca consegui escrever uma apoteose de Estaline. Pura e simplesmente, não consegui.
Mas descrevi de facto Estaline em música na minha Décima Sinfonia. Escrevia-a logo depois da morte de Estaline e até hoje ainda ninguém conseguiu adivinhar sobre que trata essa sinfonia: é sobre Estaline e sobre a era de Estaline. Para não perdermos tempo, o segundo andamento, o Scherzo, é um retrato musical de Estaline. Obviamente, há mais coisas ali, mas é essa a base.
Devo confessar que é muito difícil descrever musicalmente os benfeitores da Humanidade, ou seja, de avaliá-los através da música. Beethoven conseguiu-o do ponto de vista musical, mas, no entanto, estava enganado do ponto de vida histórico.
Compreendo que a minha Sinfonia nº 10 não foi um completo sucesso nesse sentido. Comecei com um objectivo criativo e terminei num esquema completamente diferente. Não fui capaz de realizar as minhas ideias, o material ofereceu resistência. Desenhar em música a imagem de dirigentes ou de condutores impõe enormes dificuldades.
Eu dei a Estaline o que lhe era devido — o sapato serve, como se costuma dizer. Ninguém me pode acusar de ter evitado esse fenómeno horrendo do nosso tempo.