Saldanha cantado em São Carlos

Durante a permanência de Clara Novello em Lisboa o clima político do país foi efervescente. Nos finais de 1850 o Conde de Thomar, Presidente do Conselho de Ministros do Reino, era violentamente atacado nas ruas com canções insultuosas e foi neste clima que ele deu um baile em honra da Cantora/Condessa. Foi, no entanto, forçado a abandonar o cargo e a capital em 1851, sendo substituído pelo Marechal Saldanha.

Clara Novello cantava em São Carlos numa noite em que este último foi particularmente festejado no teatro. Ela própria contou como foi:

O velho duque de Saldanha, celebrado como cabeça da revolução liberal que trouxe D. Maria ao trono, era popularíssimo em Lisboa durante a minha permanência ali. Quando ele veio à ópera eu tive de cantar, em português, um hino em sua honra: O Nobre Saldanha!”

Fonseca Benevides dá-nos informações preciosas sobre essa noite, embora não indique que Novello cantou “O Nobre Saldanha”!:

Foi na noite de 15 de maio de 1851. Representava-se no teatro de S. Carlos a opera Fingal e o baile O veu encantado. Tinha já começado o espectaculo. Estava a Novello em scena. A sal estava cheia e ocupada pelos assignantes e frequentadores do costume, e outras pessoas que iam com a ideia na ovação. D. Maria II estava no seu camarote particular com seu esposo. Eis que aparece á porta do camarote dos ministros, nº 34 da 1ª ordem, junto á tribuna, do lado direito olhando para esta, o vulto symphatico, nobre e franco do marechal Saldanha; como por encanto, rompe dos espectadores um viva atroador; a electricidade do enthusiasmo instantaneamente se propaga pela sala; todos se põem em pé, nas plateias e nos camarotes. A Rainha e seu esposo fazem o mesmo. A atmosphera do theatro torna-se febril e inebriante; os vivas e os bravos ao chefe da nova situação politica cruzam-se de todos os lados, e repetem-se vezes sem conto.

(…)
Três quartos de hora durou a aclamação estrondosa, que acolheu a aparição do duque de Saldanha em S. Carlos, e esta ovação extraordinária e espontânea reproduziu-se mais vezes durante a noite. N’isto, porém, o publico foi alem dos limites da delicadeza, pois que era obrigar a rainha a estar de pé demasiado, assistindo a uma situação que demais a mais fortemente a humilhava
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