Na década de 70 do século XVIII a Opéra em Paris era dominada por dois grandes astros: Sophie Arnould e Rosalie Levasseur. Um pouco como o Scala de Milão da primeira metade dos Anos 50 do século XX esteve dominado por Tebaldi e por Callas. A Humanidade continua igual.
Em 1774 a primeira delas, Sophie Arnould, uma das cantoras mais amadas da sua época, cria mundialmente a ópera Iphigénie en Aulide e canta a Eurydice em Orphée, ambas de Gluck. Só que nesta altura da sua carreira, iniciada alguns anos antes, a voz de Arnould parece estar deteriorada e não passar daquilo a que se chama um fio. Gluck começa a preferir a Levasseur, que, para além do mais, habita em sua casa e é sua aluna, e decide que seja esta a estrear a sua Alceste.
Isto foi a abertura de um conflito! Levasseur sabe bem que o papel em princípio se destina a Sophie Arnould, que continua a ser titularmente o primeiro soprano da Opéra, e sabe muitíssimo bem que este convite de Gluck é uma verdadeira afronta à “querida colega”! A rígida estratificação social da época refletia-se na da ópera e abalá-la poderia trazer problemas.
Sophie Arnoulf faz queixinhas, em primeiro lugar ao Príncipe de Henin, que era o seu protetor no momento (ela já tivera muitos!). Por seu lado, a Levasseur pede a ajuda do Embaixador Mercy d’Argenteau.
Abriu-se, assim, um verdadeiro conflito ao feminino!
Sophie lançou então um epigrama, que cria mortal: “Não é de espantar que o povo aplauda a Levasseur, pois ela tem uma voz plebeia!”. A vingança serve-se, como todos sabemos, fria. E a Levasseur faz distribuir dias depois na Opéra um panfleto, escrito por um dos seus defensores, dedicado à rival, que assim se iniciava:
Velha sereia caduca,
Cadáver infecto, patrona das pu…
Tu, cuja goela desdentada
Vomita a grandes ondas venenos
Lançados por língua pestífera…
E os mimos assim continuavam.
Guerre d’étoiles!