Vasco Barbosa — um dos nossos

Vasco Barbosa — um dos nossos

A Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a direção do maestro Diogo Costa vai apresentar-se no próximo dia 9 de novembro às 19h00 num concerto preenchido com obras de Beethoven, Prokofiev, Walton e Schumann. Como solistas estarão Laureados da IV Edição do Concurso Nacional de Cordas Vasco Barbosa, eleitos em maio de 2018: Maria Nabeiro (violoncelo); Manuel de Almeida Ferrer (violino); Miguel Sobrinho (viola); Josefina Fernandes (violino).

Vasco Barbosa é um nome incontornável do século XX musical português. Lisboeta, nascido a 24 de julho de 1930, foi um dos mais importantes violinistas nacionais. Depois de tirar o curso de violino no Conservatório Nacional, estudou a partir de 1947 na Suiça com o grande violinista alemão Georg Kulenkampff e depois em Paris com George Enescu. Foi também aluno de Ivan Galamian em Nova-Iorque. Vasco Barbosa morreu com 85 anos, em 20 de Fevereiro de 2016, em Odivelas, a tempo de saber que em 2015 tinha sido criado pela Camerata Atlântica e pela Academia Portuguesa de Artes Musicais o “Concurso Nacional de Cordas Vasco Barbosa”, destinado a jovens intérpretes e com a missão de divulgar autores nacionais, tal como ele fizera ao longo de toda a sua carreira.

Com este concerto a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Teatro Nacional de São Carlos homenageiam também um dos “seus”.

Em primeiro lugar, nunca será demais sublinhar que Vasco Barbosa foi nomeado “concertino honorário” da O.S.P. Esta honra foi, porém, o cume de uma aventura que se iniciou em 1947.

A ligação de Vasco Barbosa ao Teatro de São Carlos foi de fato muito longa e iniciou-se há já cerca de 70 anos. Ele estreou-se aqui a 9 de janeiro de 1947, num concerto dirigido por Pedro de Freitas Branco, como solista do Concerto nº 4 para violino e orquestra, op. 31 de Henri Vieuxtemps. Do programa constava, entre outras obras, uma Sinfonia em si menor de Venceslau Pinto em estreia absoluta. O violinista regressou logo no ano seguinte com o mesmo maestro, agora como solista da Sinfonia Espanhola de Édouard Lalo. Depois, ao longo das décadas que se seguiram, assistiu-se a um número considerável de apresentações suas, algumas no domínio camerístico. Sublinhe-se que em Janeiro de 1949 Vasco Barbosa se apresentou ao lado do pai – Luís Barbosa – como intérprete em violino da Sinfonia Concertante para violino e viola e orquestra, K. 364 de Mozart. Curiosamente, nesse concerto igualmente dirigido por Pedro de Freitas Branco, apresentou-se em primeira audição absoluta a Elegia para Viana da Mota de Joly Braga Santos. Vasco Barbosa também se apresentou algumas vezes no teatro com a irmã, a pianista Grazi Barbosa. Iniciaram, esta “fraternidade” musical em dezembro de 1951 com um recheado recital preenchido com obras de Corelli, Bach, Prokofiev, Joly Braga Santos, Ernesto Halfter, Szimanowski. No nosso teatro, aliás, Vasco Barbosa uniu-se variadas vezes a alguns dos mais importantes instrumentistas e cantores nacionais, ou sediados em Portugal, como Marie Antoinette Levêque de Freitas Branco, Helena Moreira de Sá e Costa, Madalena Moreira de Sá e Costa, Nella Maissa, Adriano Jordão, Elsa Saque, Sequeira Costa, Silva Pereira, Sérgio Varela Cid. Para além de Pedro de Freitas Branco, apresentou-se ainda sob a direção de Frederico de Freitas, García Navarro e Silva Pereira. Em junho de 1991, sinal de vitalidade e entusiasmo que nunca o deixaram, Vasco Barbosa unia-se ainda aos mais jovens Armando Vidal, Kenneth Frazer, Jaime Carriço e Lutz Kühne num recital de música de câmara.

Pensando no concerto de dia 9 de novembro saltaram-me do saco das memórias dois breves momentos.

O primeiro foi o Concerto para violino e orquestra, op. 61 de Beethoven que ouvi por ele tocado na nossa sala em outubro de 1983. Esta apresentação persistiu mais na memória, vá lá eu saber porquê.

O outro, o final. Pouco tempo antes da sua morte, estou no Largo de São Carlos e vejo Vasco Barbosa, muito encasacado, a chegar, descendo a Serpa Pinto. Abria-se-lhe o sorriso luminoso porque ia assistir a um espetáculo no seu São Carlos! Foi a última vez que lhe falei.

Agora, ele é recordado pela Juventude e pelo Teatro! É bom quando de repente tudo parece ficar afinadíssimo no Universo.

(Na fotografia: Vasco Barbosa em 1947, ano em que se estreou no nosso teatro. Foto dedicada a D. João da Câmara).

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