Pudemos admirar há relativamente pouco tempo em São Carlos a ópera Ipighénie en Aulide de Gluck. Olhemos agora para a sua criadora, Sophie Arnoud, num busto esculpido por Jean-Antoine Houdon (1741 –1828) que a representa precisamente no papel de Ifigénia. A obra foi encomendada pela própria cantora, tal como reza um contrato assinado a 5 de abril de 1775. O escultor comprometia-se, mediante o pagamento de 3.800 libras, a fornecer um busto da artista nas vestes de Ifigénia. Houdon deveria ainda, segundo o contrato, fornecer trinta cópias do busto em gesso e o busto em argila usado como modelo. Comprometia-se também a não realizar, dar ou vender algum outro busto semelhante em mármore, gesso ou argila. Desapareceram quase todos os gessos, o original mantém-se.

Recordemos que a ópera Iphigénie en Aulide de Gluck, cujo libreto se inspira na Iphigénie de Jean Racine, se estreou mundialmente na Opéra de Paris (Salle du Palais-Royal) a 19 de Abril de 1774. Foi de novo executada no ano seguinte e depois teve remontagens, quase todos os anos, de 1726 a 1824. Durante este meio-século teve cerca de 400 representações, tornando-se assim na ópera de Gluck mais representada na capital francesa. Sophie Arnould quis decerto que permanecesse em pedra a imagem de uma das suas mais gloriosas criações.

A escolha do escultor, como se pode ver, não foi má! Jean-Antoine Houdon é, recorde-se, o autor da estonteante estátua de Diana que abrilhanta o Museu Gulbenkian.