O desenho de luzes da nova produção de Idomeneo, re di Creta de Mozart é assinado por Cristina Piedade, a Directora Técnica da C.N.B. Embora já tenha fugazmente “passado” pela ópera, Cristina Piedade tem tido, naturalmente, uma carreira essencialmente relacionada com a dança. Tentei saber dela, em primeiro lugar, como se relacionam a Música e a Luz.
A Música inspira a Luz – inspira-a e entra nela! Eu tenho andado a adormecer e a acordar inspirada com a música e com as vozes que aqui ouço. Arrepio-me, emociono-me. Esta produção também me inspirou muito porque se tratou de uma experiência para mim totalmente nova, fora do meu âmbito, e neste aspecto foi uma experiência fora de série. É claro que isso se traduz na luz que fiz, dentro das possibilidades que tive para a fazer. Digo isto porque os tempos de trabalho em ópera são muito diferentes daqueles a que estou habituada em dança ou em música pura (nesta, há a liberdade total e na dança, em algumas coreografias, há-a também muitas vezes). Mas eu estou habituada a trabalhar de antemão e a ter mais tempo para poder fazer as coisas. Em ópera é tudo muito em cima – só vejo os figurinos todos em palco no Ensaio Ante-Piano! O processo é completamente diferente, mas é absolutamente extraordinário.
A emoção que sente no bailado sente-a também na ópera?
A emoção é igual, embora eu no bailado sinta que estou a dançar e na ópera não consigo ainda sentir que estou a cantar. Quando estou a fazer o desenho de luzes para bailado ou para dança emociono-me da mesma maneira que os bailarinos, é como se estivesse a dançar com eles, embora não dance. Mas a ópera é algo ainda muito distante para mim, é um conhecimento novo – não consigo cantar com os cantores … mas gostaria tanto de o fazer com eles! Vejo-me mais como um back vocal do que propriamente como uma cantora principal, mas emociono-me enquanto as luzes vão acontecendo, sinto os crossfades, uma coisa tão técnica para uma coisa técnica, mas ambas artísticas do meu ponto de vista.
Nesta ópera, especificamente, é um fascínio ver estas senhoras a cantar. Não sei se são boas se são más, para mim são fora de série. Uma delas faz um personagem masculino e tem uma relação com o corpo diferente, mas as duas senhoras que fazem papeis femininos têm também movimentos excepcionais, com que me identifico imenso. Para mim é uma grande sorte poder trabalhar com estas senhoras tão bonitas e tão elegantes e com vozes que me transtornam – no bom sentido!!!
Tentando transformar a Cristina Piedade em “técnica de marketing”, pedi-lhe que apontasse razões para vir a São Carlos assistir ao Idomeneo. Porque devem as pessoas vir ver esta ópera a São Carlos?
Para se emocionarem, para sentirem outras coisas que não sentem no dia-a-dia ou que não sentem com o bailado. É uma forma diferente de amor; é outro amor. Eu tenho o amor pela dança e agora há outro amor que estou a descobrir. É bom que as pessoas venham encontrar outro amor. Acho isso importante.