Réné Jacobs nasceu na belíssima cidade de Gand, na Bélgica, em cuja Catedral iniciou a sua carreira musical como coralista. Foi mais tarde foi encorajado por vários grandes músicos (irmãos Kuijken, Gustav Leonhardt, Alfred Deller, entre outros) a prosseguir uma carreira de contratenor. Aceitando os conselhos, rapidamente se tornou um dos mais conhecidos intérpretes da sua geração nesta categoria vocal. Depois de abandonar a carreira canora, dedicou-se à direção de orquestra. No âmbito desta atividade construiu já um legado impressionante de registos discográficos que engloba centenas de obras dos séculos XVI ao XVIII.
Um dos seus campos preferidos é a ópera, género a que tem dedicado grande parte do seu labor e que enriqueceu com versões pessoalíssimas. Tornaram-se de referência as suas leituras da Trilogia Mozart/Da Ponte, assim como as de um importante conjunto de óperas de Handel. Numa recente entrevista a Camille De Rijck – publicada na revista Diapason do presente mês de janeiro de 2019 – o maestro manifesta-se acinzentado de espírito, ou seja, descontente com o que, segundo ele, está a acontecer à ópera:
“A ópera hoje está doente”. É a primeira frase!
Ao diagnóstico segue-se as várias razões para a maleita.
“Porque apenas há interesse por algumas obras, que são programadas sem descanso. Anuncia-se enormes quantidades de Carmen ou de A Flauta Mágica, esperando que os encenadores consigam constantemente reinventá-las. Como se a matéria dramática pudesse ser algo de extensível! Eis a razão pela qual as obras de Scarlatti continuam nas prateleiras das bibliotecas.”
Réné Jacobs explicou também as razões pelas quais, segundo ele, o encenador detém hoje uma tal importância no universo da ópera:
“O papel esmagador da encenação na nossa visão contemporânea provém justamente do facto de estarmos constantemente a representar os mesmos repertórios. Vive-se com a falsa ideia de que os dramaturgos conseguem insuflar algo de novo às obras.”
E … remédio?
“Os nossos semelhantes estão ávidos de mitos que expliquem e confiram sentido às suas vidas e ao que os rodeia.”