No site officiel do compositor Henri Tomasi lê-se que a sua ópera em 4 actos Don Juan de Mañara (ou Miguel Mañara) teve criação mundial cénica no ano de 1956 no Prinzregentheater, em Munique. No Teatro de São Carlos — e em Portugal — a obra estreou nove anos depois, a 25 de fevereiro de 1965, com um elenco de luxo em que sobressaíam as presenças de Denise Duval, Susanne Sarroca, Jacques Bouet ou Michel Roux. A direção esteve a cargo de Jean Fournet e a encenação foi assinada por Ulrich Reinhardt. Nesse dia 25 de fevereiro de 1965 Henri Tomasi estava no nosso teatro e assistiu à representação da sua ópera. O elenco era brilhante, mas o luxo máximo, porém, consistia no facto de Don Juan de Mañara estar a ser estreada em Lisboa antes de o ser no país do compositor, dado que a primeira apresentação francesa da obra se deu apenas em abril de 1967, em Mulhouse.
Henri Tomasi nasceu em Marselha em 1901, ingressou no Conservatório daquela Cidade aos 7 anos e poucos anos depois ali ganhou o primeiro prémio em harmonia, juntamente com o seu amigo, o celebrado violinista Zino Francescatti. Mais tarde estudou no Conservatório de Paris, onde teve como professor Vincent d’Indy, entre outros.
O facto de ser filho de pais corsos talvez tivesse inspirado ao compositor a sua primeira obra — um quinteto de sopros intitulado Variações sobre um tema corso. Henri Tomasi teve uma vida aventureira e muitíssimo empenhada politicamente. Recorde-se que em 1944, depois do nascimento do seu filho Claude, iniciou um Requiem dedicado aos “mártires da Resistência e a todos os que morreram pela França”, obra redescoberta só após a sua morte. Refira-se ainda que nos primeiros tempos da actividade foi acompanhador musical de filmes e que o trabalho neste âmbito — que obrigava à improvisação — desenvolveu enormemente, segundo ele próprio confessou, as suas capacidades como compositor. Foi também maestro e um dos primeiros maestros a dirigir orquestras radiofónicas. Foi um dos fundadores em Paris, ao lado de Prokofiev, Milhaud, Honegger e Poulenc, do conjunto Triton, dedicado à música contemporânea.
Embora nos tivesse deixado uma numerosa obra — escrita especialmente para sopros (concertos para flauta, para oboé, para clarinete, para saxofone, para fagote, para trompete, para trompa) — Tomasi foi sobretudo atraído pelo teatro, razão pela qual aceitou assumir em 1946 o posto de maestro na Opéra de MonteCarlo. Importa sublinhar que Henri Tomasi deixou outras óperas, como L’Atlantide, Le Testament di Pere Gaucher, ou Sampiero Corso. Nos últimos anos o empenho político do compositor aumentou e, assim, surgiram obras como a Sinfonia do Terceiro Mundo ou o Canto pelo Vietnam. A sua derradeira obra teatral In Praise of Madness (the nuclear era), uma amálgama de ópera e bailado, contém referências ao nazismo e ao napalm. Henri Tomasi também teve a ideia de compor um Hamlet, mas a morte colheu-o antes de o ter concretizado.
Curiosamente, o seu destino como compositor parece ter sido traçado pela ópera La bohème de Puccini. Assistiu a uma récita da mesma em criança, levado pela mãe, e parece que chorou copiosamente pela sorte de Mímì!
Fiquemos com uma frase que poderíamos considerar o seu Credo como compositor:
Embora eu não me tenha eximido a usar as mais modernas formas de expressão, sempre fui um melodista de coração. Não suporto sistemas e sectarismos. Eu escrevo para o grande público. A música que não sai do coração não é música.