Davide Giusti é o jovem tenor italiano intérprete de Tebaldo na série de récitas da ópera I Capuleti e i Montecchi de Vincenzo Bellini que irá preencher uma significativa parte da programação do São Carlos em Abril. O seu repertório é o de tenor lírico, puramente lírico, e centra-se essencialmente na produção italiana oitocentista ( belcantista, verdiana, pucciniana e verista: Nemorino; Alfredo; Duca di Mantova; Cassio; Fenton; Rodolfo; Rinuccio; Pinkerton; Beppe). Junte-se-lhes o Don Ottavio mozartiano. Tem-se apresentado com este conjunto, não exaustivo, em Parma, Martina Franca, Treviso, Ferrara, Macerata, Cagliari, Trieste, ou Darmstadt, Liège, Montpellier, Tel Aviv, Lima.
Agora em Lisboa, falou de Lisboa.
DG – A cidade é maravilhosa, estou sem palavras. Pude fazer algumas visitas (Sintra, Cascais, Caparica) e tive uma relação muito próxima com o mar. O oceano atrai-me particularmente porque faço pesca submarina. É belíssimo ver o oceano, o mar, o infinito. Como dizia Leopardi, tal como eu da região das Marche, em L’Infinito: “perdersi lo sguardo nell’infinito”.
Amo a cidade e amo a cozinha! Aqui come-se maravilhosamente e eu adoro boa cozinha. Já devo ter provado 20 receitas de bacalhau. Adoro bacalhau, corvina, lagosta, gambas… comi de tudo! Lisboa é boa para quem gosta de comida e de boa vida!
Em Lisboa situa-se o Teatro Nacional de São Carlos.
DG – Este teatro, nacional, está cheio de história. É uma honra estar aqui. O teatro é lindíssimo, canta-se nele muito bem, o palco é profundo. Há um belo ambiente, um pouco familiar na gestão. Está a ser uma produção serena e tranquila e temos passado um bom período em conjunto. O elenco deu-se muito bem e temos todos uma relação ótima.
O papel de Tebaldo que Davide Giusti agora vem cantar a São Carlos afasta-se um pouco do paradigma do tenor galã, por quem o soprano suspira e a quem o barítono ou o baixo odeiam. Na trama Tebaldo assume mesmo traços negativos, pois opõe-se ao par amoroso.
DG – É um papel particular. O duque de Mântua é um “mau”, mas é amado pelas mulheres. No fundo, que culpas tem Tebaldo? Ele só quer casar com Julieta porque gosta dela. Ele é um herói, aquele é o seu meio, provavelmente será o futuro chefe dos Capuletos. Os desejos de Tebaldo são os do pai de Julieta. Canta-o numa belíssima ária. Que mal fez Tebaldo? Ele não é um “mau” como os outros porque quando se apercebe que as suas ações levaram à morte de Julieta pede a Romeu que o mate. Um verdadeiro “mau” não reagiria assim – mataria, ficariam todos mortos e pronto.
É um papel difícil mas vocalmente não dá uma grande satisfação porque não é ele o amado, o querido do público. O público torce por Nemorino ou por Rodolfo e põe-se do lado deles. Aqui o público torcerá por outros … mas a beleza mantém-se!