“O céu agrada-me pensar que é a memória de dois ou três amigos…”, escrevia o poeta Luís Miguel Nava nos Anos 80. Eu, como acredito nisto, sei que o Francisco, é claro, está no Céu!
Trabalho no São Carlos há quase quarenta anos (visito-o há alguns mais, desde a infância quase) e uma das pessoas que cá conheci de imediato e que permaneceu pela vida minha fora foi o Francisco Vicente. Para mim, ele era também o teatro e a morte dele arrancou-me, assim, um pedaço enormíssimo de vida.
Vi-o ser solteiro, ser casado, ter filhos , agora vejo-o morrer e não sei como é que vai ser! É que há já oito anos que apresento o Festival Ao Largo e há já oito anos que antes de subir os degraus para entrar no palco, ouço a voz do Francisco, sorridente, para mim: “Não fales demais, miúdo!”.
Francisco, ficas já avisado! Vou pessoal e interiormente dedicar-te todo o Festival Ao Largo deste ano, apresente-o eu ou não. Peço-te, pois, uma cunha lá em cima para este ano termos um Festival em grande! Aconselho-te, ainda, a munires-te de paciência e a comprares um aparelho auditivo, pois vais ter de me ouvir todas as noites e a minha voz não sobe até aos espaços siderais onde estarás. Este ano, antes de subir ao palco, “agrada-me pensar” que continuarás por ali, a meu lado, nas escadas.
Vou dizer-te, tal como sempre fazia: “Vai chatear outro!” (quando não era mais vernáculo).