Quando comecei a frequentar São Carlos os arrumadores metiam-me medo. Nunca tive razão de queixa, confesso. Dado ser tão novinho, andar por aqui sozinho e ter ganho o gosto às visitas, passei até a ser acarinhado. Mas durante anos impunham-me um respeito temeroso.
Com o andar do tempo, deixaram de se chamar arrumadores. Acho bem, até porque foi sendo cada vez mais difícil defender a ideia de que o público tem de ser arrumado — esticando esta linha semântica ao extremo, poder-se-á mesmo afirmar que a Rainha Isabel II de Inglaterra já foi arrumada em São Carlos.
Agora chamam-se técnicos de frente de casa, o que tem mais lógica. São eles a linha da frente que acolhe o público e que quando este por vezes se enerva tem de o acalmar.
Mas os rituais mantêm-se. Seguramente, há cinquenta ou cem anos atrás, antes de se abrir a frente de casa (as portas) decorreram reuniões como esta que foi captada no Foyer do teatro escassos minutos antes de acolher o público da última récita de Alceste.