Edgar Pierre Jacobs, Cecil B. DeMille, Frederico Fellini ou Luchino Visconti são alguns dos criadores de que gosto porque gosto de ópera. Falarei agora de Edgard Félix Pierre Jacobs (1904 –1987), conhecido pelo nome artístico de Edgar P. Jacobs, porque, de todos os acima nomeados, foi ele o único que foi figurante e cantor de ópera e, mais do que isso, apaixonado pelo género lírico. Alguns dos estudos sobre o desenhador apontam mesmo esse facto, como é o caso do livro de Jean-Marc Guyard intitulado Le Baryton du neuvième art, editado em Bruxelas em 1996. A autobiografia de Jacobs, editada em Paris em 1981 pela Gallimard , intitula-se também, significativamente, Un opéra de papier: Les mémoires de Blake et Mortimer.
Estes dois últimos nomes — Blake et Mortimer — instalarão imediatamente os mais distraídos naquele ambiente desmesurado, intensamente dramático e frenético de álbuns de banda-desenhada como O Segredo do Espadão de 1947, O Mistério da Grande Pirâmide, de 1950, ou O Enigma da Atlântida, de 1955, este último com os Açores em grande plano. O último trabalho de Jacobs, terminado por Bob De Moor em 1990, foi uma grande aventura futurista intitulada As Três Fórmulas do Professor Sato.
Antes da consagração como desenhador, porém, a grande paixão de Jacobs fora os palcos, especialmente os palcos de ópera: “um espectáculo onde se conjugavam a magia dos cenários e a música.”, nas suas palavras. Numa carta de 1968 escreve ainda: “A minha passagem pela ópera mais não foi do que a consequência lógica da minha atracção por esse meio de expressão. Eu sinto teatro desde sempre.”.
Pode mesmo dizer-se que Jacobs teve uma outra carreira como figurante e como barítono (era o barítono Delmas!) em produções de ópera em Bruxelas e em Lille entre 1910 e 1940. Em 1929 recebeu mesmo a medalha anual do governo belga por excelência no domínio do canto erudito. Durante estes anos Jacobs efectuou centenas de desenhos, esboços e apontamentos relacionados com o mundo da ópera: cenários, figurinos, estudos para maquilhagem, etc. Só depois enveredou decisivamente pela carreira de desenhador profissional.
Esta carreira teve também a ver com os palcos, pois foi o cenário desenhado para uma adaptação teatral de Os cigarros do Faraó de Hergé que chamou a atenção deste último e o levou a convidar Jacobs como colaborador. Ficaram, para além do mais, amigos e Jacobs gostava de arrastar Hergé para espectáculos de ópera, apesar de o criador de Tintin não gostar do género … talvez por isso tivesse nascido uma das mais famosas cantoras de ópera do século XX: a celebérrima Bianca Castafiore.
Aqui temos alguns desses desenhos de Edgar P. Jacobs relacionados com o mundo da ópera. Pode ver-se: um retrato de Scarpia (Tosca); um desenho de Rigoletto (Verdi), dois estudos de maquilhagem — para o mesmo Rigoletto e para o Zurga de Os Pescadores de Pérolas (Bizet). Em cima, um esboço de cenário para o Fausto de Gounod…