A prova de que Rossini adorava a mesa está na sua música. Recordemos a alegria com que se “ouve” pôr a mesa em La gazza ladra. A Gastronomia foi uma das suas principais paixões (afirmação brutal, se relativa a um dos mais marcantes compositores da história da música) e muitos defendem mesmo, maliciosamente, que foi para se dedicar aos pratos, que não os da percussão, que Rossini deixou a carreira operática.
Facto é que, com o seu nome, imortalizou pratos como os caneloni Rossini ou os tournedós Rossini.
Em defesa do compositor, digamos que o seu era um tempo pantagruélico. Quando Rossini chegou a Paris em 1823 muitos intelectuais franceses debatiam-se com questões … gastronómicas. O juiz Anthelme Brillat-Savarin, por eemplo, estava a terminar de escrever “A fisiologia do paladar” e Alexandre Dumas, pai, recolhia receitas fantasiosas e exóticas no seu “Le grand Dictionnaire de Cuisine”. Ainda por cima, Rossini conheceu na capital francesa Antonin Careme, encarregado das cozinhas dos Rothschild. O compositor conheceu-o precisamente em casa do magnata e todas as vezes que lá se deslocava ia saudar o famoso Chefe Careme — que teve um enorme desgosto quando o compositor deixou Paris: “Era o único que me compreendia”, terá dito. Esta amizade, diga-se de passagem, fez nascer música: já em Bolonha, Rossini recebeu um presente de Careme — um faisão com trufas. Na caixa estava escrito “De Careme para Rossini”. O músico respondeu com uma composição endereçada “De Rossini a Careme”.
Os sábados eram famosos em casa de Rossini. Filippo Filippi em Musica e Musicisti-critiche, biografie ed escursioni conta-nos que Rossini gostava da hospitalidade e tinha gosto em ser bom anfitrião. Os seus jantares eram renomados pelo requinte da comida e do serviço. Arnaldo Fraccaroli num livro dedicado ao compositor conta também que entre os comensais se poderiam encontrar Meyerbeer, Auber, Thomas, Saint-Saens, Giuseppe Verdi (quando ia a Paris), Arrigo Boito, Alexandre Dumas, Gustave Doré, Marietta Alboni, Giulietta Grisi, Adelaide Borghi-Mamo, Adelina Patti, Mario, Tamburini, Tamberlick, Maria Taglioni (então Condessa Gilbert de Voisins), o editor Ricordi, Florimo (o confidente de Bellini), o Príncipe Poniatowski, o barão Rothschild , o barão Haussmann … e tutti quanti!
Outra das provas de que Rossini adorava a boa comida está no numeroso anedotário que sobre este tema se criou. Conheçamos algumas dessas deliciosas histórias:
Em 1864 o barão Rotschild enviou a Rossini uvas das suas propriedades. Teve da parte do compositor esta resposta: “Obrigado! As uvas são excelentes, mas não gosto muito do vinho em pílulas”. Imediatamente seguiram para o compositor algumas garrafas do melhor Chateau-Lafitte.
Por vezes, o compositor Alberto Lavignac oferecia a Rossini uma dúzia de royaux, sardinhas que se pescam no golfo da Gascogne. De uma das vezes, recebeu como resposta/agradecimento: “meu amigo, nunca me ofereça royaux aos sábados, porque nesse dia tenho sempre a casa cheia de gente. Quando tenho royaux gosto de as comer sozinho, à minha vontade, e sem falar.”
Rossini era, como qualquer bom gourmet, um excelente cozinheiro. Diz-se que eram únicos os seus maccheroni! A receita dos mesmos foi eternizada por Careme.
O compositor adorava um prato: uma mistura de frango com gambas fritas em manteiga!