Provavelmente, iria tentar convencer Aquiles a devolver mais depressa o cadáver de Heitor a Príamo. Essa parte da “Ilíada” em que Príamo, o pai de Heitor, vai rogar a Aquiles que lhe devolva o cadáver do filho morto é a passagem mais bonita que eu conheço da Literatura Mundial.
Augusto dos Santos Silva recordou, a este propósito, a “magnífica” tradução de Frederico Lourenço das obras de Homero. Fiquemos pois com um pouco deste episódio nessa versão. É um excerto do Canto XXIV, passagem que, segundo Rachel Bespaloff no seu estudo intitulado “Sobre a Ilíada”, é o único caso onde na Ilíada a súplica serena o suplicado em vez de o exasperar.
“Respeita os deuses, ó Aquiles, e tem pena de mim,
Lembrando-te do teu pai. Eu sou mais desgraçado que ele,
E aguentei o que nenhum outro terrestre mortal aguentou,
Pois levei à boca a mão do homem que me matou o filho.”
Assim falou; e em Aquiles provocou o desejo de chorar pelo pai.
Tocando-lhe com a mão, afastou calmamente o ancião.
E ambos se recordavam: um deles de Heitor matador de homens
E chorava amargamente, rojando-se aos pés de Aquiles;
Porém Aquiles chorava pelo pai, mas também, por outro lado,
Por Pátroclo. O som do seu pranto encheu toda a casa.