Cesti, Monteverdi, Cavalli, Scarlatti, Agricola, Vivaldi, Haendel, Sacchini, Guglielmi, Hasse, Jomelli, Porpora, Traetta, Perez, Salieri, Cimarosa, Pergolesi, Sarti , ou seja, os mais importantes compositores dos primeiros dois séculos da ópera deixaram-nos centenas de títulos sobre Semiramide, Tito, Alessandro, Andromeda, Ulisses, Dido, (esta sempre abbandonata), Demofoonte, Adriano e mais uma multidão de gente ilustre da Antiguidade, real ou lendária.
Com Elektra, porém, parece não terem engraçado tanto. Nenhum dos compositores referidos acima nos deixou óperas dedicadas a esta figura.
Dado que sobre a irmã — Ifigénia — e sobre o pai — Agamemnon — foi composto um número infindável de óperas, temos de descartar qualquer aversão à família da senhora (os Átridas) para explicar esta escassez de interesse. Talvez que a convulsão sentimental de Elektra, a que já chamaram histeria, e o facto de ela parecer estar sempre à beira de um ataque de nervos, a tenham afastado do interesse dos compositores, mas tal hipótese não deixa de ser estranha, pois, com os seus gritos, angústias, convulsões e sede de vingança esta personagem parece fadada para ser ópera.
Elektra surgiria já só nos finais do século XVIII, precisamente na altura em que a Humanidade se preparava para banir dos palcos os deuses e heróis da Grécia e Roma antigas. Mas, quando surgiu, fê-lo na forma mais perfeita, ou seja, com a música de Mozart, precisamente na ópera Idomeneo, re di Creta. Na sua despedida, junto ao mar, lança da música mais mágica que algum ser humano criou. Houve também uma Électre, em 3 actos, com música de Jean-Baptiste Moyne, estreada na Académie Royale de Musique de Paris a 2 Julho de 1782. Era uma tragédie lyrique e o libreto de Nicola-François Guillard baseava-se no mito grego. Sublinhe-se que a intérprete desta Électre foi Rosalie Levasseur, criadora mundial dos papeis titulares de Alceste (23 Abril 1776), Armide (23 Setembro 1777) e Iphigénie en Tauride (18 Maio 1779), todas de Gluck. Em 1787 surgiu também uma outra Electra em 3 actos de Johann Christian Friedrich Haeffner com um libreto de Adolf Fredrik Ristell baseado do de Nicolas François Guillard.
Teríamos depois de esperar mais de um século até um grande compositor se interessar por este personagem. Foi Richard Strauss.
Depois dele, e com um século XX de novo apaixonado pela Antiguidade Clássica, surgiram outras Elektras, embora de compositores não tão marcantes. Assim, recorde-se aqui a de Mikis Theodorakis ou uma outra, de Marvin David Levy. Esta última baseou-se na peça Mourning Beccomes Elektra de Eugene O’Neill.