Duas curiosidades.
Primeira. Em Novembro de 1903 Richard Strauss assistiu em Berlim a uma produção da tragédia Elektra de Sófocles encenada por Max Reinhardt e traduzida por Hugo von Hoffmanstahl. O maravilhamento suscitado por esse espectáculo terá contribuído grandemente para a efervescência criativa que viria a resultar na futura ópera. O que talvez seja menos divulgado é que o compositor já se tinha interessado pela peça grega alguns anos antes da estreia e composição da sua Elektra. De facto, em 1881, quando contava apenas 17 anos de idade, Strauss musicou um coro da mesma tragédia de Sófocles. Trata-se de uma obra para coro masculino e orquestra intitulada precisamente Chor aus Elektra von Sophocles (ou Chor aus Elektra, dependendo do catálogo das obras). Há quem pareça nascer já preparado para a sua “missão”! Franz Schubert também com apenas 17 anos de idade musicou o poema Erlkönig de Goethe (em Portugal conhecido como O Rei dos Álamos) e com tal acto deixou-nos uma das mais extraordinárias realizações no domínio do lied. O coro straussiano não permaneceu uma obra tão significativa mas, mesmo assim, não deixa de ser importante no trajecto do compositor alemão.
Segunda. Como se anuncia na nossa temporada a ópera I Capuleti e i Montecchi de Bellini, que versa sobre os amores dos adolescentes de Verona, diga-se que em Outubro de 1887 Richard Strauss (então também ainda muito jovem, com 23 anos), escreveu música de cena para a peça Romeu e Julieta de Shakespeare. A obra, escrita para vozes cantadas e instrumentos, intitula-se Bühnenmusik zu Romeo und Julia, für Singstimmen und Instrumente. Um pequeno pormenor, hélas, vem estragar todas estas “maravilhosas” correspondências! É que Bellini para escrever a sua ópera baseou-se num libreto com autoria de Felice Romani utilizado pelo compositor Nicola Vaccai na ópera Giulietta e Romeo. Acontece que este libreto não se inspirou na obra de Shakespeare, mas sim numa peça de Luigi Scevola escrita em 1818 que se baseou nas fontes italianas que já tinham servido de base ao bardo inglês. Aliás, todos os vários “Romeus e Julietas” italianos do primeiro período romântico, e anteriores, se serviram das fontes italianas da história. Perece que só mesmo na década de 60 do século XIX surgiu uma ópera italiana baseada em Shakespeare.