Minha Mãe uma vampira?

Disse há dias a um amigo meu austríaco que a minha mãe poderia ter assistido às estreias de A Flauta Mágica, de As Bodas de Fígaro, de Così fan tutte e de O Rapto do Serralho, e que eu próprio participei na estreia cénica de Idomeneo, assisti à estreia de outros títulos mozarteanos e falei várias vezes com a primeira Fiordiligi. O austríaco perguntou-me, alarmado, se seríamos vampiros ou mortos-vivos!

Garanti-lhe que não e tive de lhe explicar que Mozart foi, de todos os grandes compositores, aquele que em tempos passados mais mal tratado foi no nosso teatro. Mais do que mal tratado, completamente ignorado! Felizmente, depois da II Guerra Mundial, o panorama modificou-se radicalmente e a obra de Mozart surgiu em São Carlos em toda a sua plenitude. Não subiram ainda à cena alguns títulos, mas estes constituem a parcela menos importante da produção lírica do compositor.

Para os que andam pela vida perpetuamente a afirmar que o que interessa em São Carlos é apenas o seu passado, dir-lhes-ia que, em relação ao mais ilustre dos salzburgueses, a segunda metade do século XX salvou-nos de uma das maiores vergonhas culturais do país. Sim, porque isto de ter obras imortais estreadas em São Carlos muito mais de um século depois da primeira apresentação mundial não lembra ao diabo!

Deixo um rol com títulos e datas de estreia das óperas de Mozart – no mundo e em São Carlos. Atente-se que Idomeneo, re di Creta foi, dos grandes títulos, aquele que demorou mais tempo a soar pela primeira vez no nosso teatro. Foi o tal em que eu tive oportunidade de participar, como coralista, em 1995.


Apollo et Hyacinthus:

Estreou na Universidade de Salzburgo em 13 de Maio de 1767.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Bastien und Bastienne.

Estreada em 1768.

Estreada em São Carlos em 12 de Março de 1948.

180 ANOS DEPOIS!


La finta semplice:

Estreada em Salzburgo em 1 de maio de 1769.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Mitridate, re di Ponto:

Estreada no Teatro Regio Ducale de Milão em 26 de Dezembro de 1770.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Ascanio in Alba:

Estreada no Teatro Ducale em Milão em 17 de Outubro de 1771.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Il sogno di Scipione:

Estreada em 1772.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Lucio Silla:

Estreada em Milão em 26 de Dezembro de 1772.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


La finta giardiniera:

Estreada em Munique em 13 de Janeiro de 1775.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Il re pastore:

Estreada em Salzburgo em 23 de Abril de 1775.

EM SÃO CARLOS, NUNCA.


Idomeneo, re di Creta.

Estreada no Residenztheater de Munique em 29 de Janeiro de 1781.

Estreada em São Carlos em 22 de Maio de 1990.

209 ANOS DEPOIS.


O Rapto do Serralho:

Estreou no Burgtheater de Viena em 16 de Julho de 1782.

Estreou em São Carlos a 24 de Fevereiro de 1953.

171 ANOS DEPOIS.


Der Schauspieldirektor:

Estreou na Orangerie do Palácio de Schönbrunn a 7 de Fevereiro de 1786.

Estreou em São Carlos em 2 de Junho de 1976.

190 ANOS DEPOIS.


As Bodas de Fígaro:

Estreou no Burgtheater de Viena a 1 de Maio de 1786.

Estreou em São Carlos a 21 de Maio de 1945.

159 ANOS DEPOIS.

 


Don Giovanni:

Estreou em no Teatro Nacional da Boémia, em Praga, em 29 de Outubro de 1787.

Estreou em São Carlos a 6 de Janeiro de 1839.

52 ANOS DEPOIS.


Così fan Tutte:

Estreou no Burgtheater de Viena a 26 de Janeiro de 1790.

Estreou em São Carlos a 7 de Fevereiro de 1958.

168 ANOS DEPOIS.


La Clemenza di Tito:

Estreou no Teatro Estadual em Praga em 6 de Setembro de 1791.

Estreou em São Carlos no Inverno de 1806 (depois esperou até 1968 pra voltar a ser apresentada).

15 ANOS DEPOIS.


A Flauta Mágica:

Estreou no Theater auf der Wieden de Viena em 30 de Setembro de 1791.

Estreou em São Carlos a 18 de Fevereiro de 1953.

162 ANOS DEPOIS.


 

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