Tristão e Julieta, de Vincenzo Wagner

É universalmente sabido que a história de Romeu e Julieta permanece como modelo do amor juvenil trágico. Isto, obviamente, a partir do momento em que Shakespeare lhe deu expressão dramática, transfigurando e magnificando as bases italianas renascentistas de onde bebeu a trama.

Não menos paradigmática no que ao amor trágico diz respeito é a história de Tristão e Isolda, que, fazendo embora parte do imaginário europeu já desde a Idade Média, foi também magnificada por Richard Wagner na ópera que tomou como título os nomes dos dois amantes.

Que ligação haverá entre estas paixões; uma tão meridional, cheia de sol e cor, outra tão nórdica, nascida entre nevoeiros marítimos?

A chave para essa ligação é Richard Wagner!

Explica-se depressa a coisa: Wagner admirava imenso a soprano alemã Wilhelmine Schröder-Devrient (1804-1860), que viu e ouviu em inúmeras récitas de ópera. Em Über Schauspieler und Sänger (Sobre Actores e Cantores) de 1872, dedicado à memória da cantora, ele escreveu mesmo que foi o facto de a ter visto actuar que fez nascer a sua vocação de compositor dramático. Schröder-Devrient viria a criar os papeis wagnerianos de Adriano (Rienzi), Senta (Der fliegende Holländer) e Venus (Tannhäuser).

O que nos interessa agora é que em 1835 (nos inícios da sua carreira, portanto) Richard Wagner dirigiu Schröder-Devrient em Magdeburgo em récitas de várias óperas. Numa delas, a soprano encarnou precisamente o Romeo nos Capuleti de Bellini. Muitos anos mais tarde, Wagner confessou à sua mulher Cosima que a memória da entrega e da paixão com que Schröder Devrient cantou o Romeu o inspirou para escrever o II Acto do Tristan!

E esta, hein?

É como dizia Keats: A thing of beauty is a joy forever.

Wilhelmine Schröder-Devrient

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